Quem está educando financeiramente seus filhos? Saiba que a responsabilidade é sua e de mais ninguém. Mas não se assuste, não é necessário ser um expert em mercado financeiro ou educação infantil para cumprir esta tarefa, basta você dar a eles o exemplo de equilíbrio e sensatez nas lides financeiras, desde o cuidado financeiro diário até o que você faz e comenta sobre seus investimentos.
No Brasil, como também na maioria dos países, são raras as escolas e as famílias que tratam da educação financeira das crianças, então, por falta de modelo, estas copiam os dos pais, através da linguagem não verbal. Este aprendizado começa cedo. Quem tem filhos, com certeza, já deu boas gargalhadas ao vê-los imitando os pais, a começar pelo uso do vestuário, passando pelos modos de alimentação e higiene, chegando até aos mais sutis, cujo resultado só se verá mais tarde, como a forma de relacionar-se com as pessoas e com o dinheiro.
Portanto, se você quiser ter filhos independentes e equilibrados financeiramente, seja independente e equilibrado financeiramente. Dentre todas, esta é a primeira e mais importante lição financeira que você pode dar para a garotada. As demais lições podem ser dadas com as ações do dia-a-dia, que, se bem aproveitadas, podem ser exercícios de paciência, tolerância, flexibilidade, coragem e criatividade, qualidades necessárias para formar um adulto de bem com o dinheiro.
Portanto, aproveite as lides diárias para dar aos seus rebentos a noção de paciência, a começar por não satisfazer a todas as suas vontades a tempo e a hora, treinando-os a serem pacientes, seu tempo de espera e incentivando-os a poupar para adquirir algo que eles desejam, como também dando o exemplo, investindo regularmente para comprar algo, ao invés de contrair um financiamento.
Aproveite as compras para desenvolver a percepção de caro e de barato, fazendo referências à mesada ou a algo que represente bem o seu mundo. Utilize um problema comum, como por exemplo, a procura por um brinquedo desaparecido, para estimular a criatividade e a flexibilidade de pensamentos. Estimule as trocas, em dias especiais na escola, na família e na vizinhança. Elas têm tudo a ver com a nossa capacidade de utilizar o dinheiro. E mais: que tal, ao receber uma roupa ou um brinquedo novo, doar um velho?
À mesa, não os obrigue a “comer tudo”. As crianças necessitam desenvolver o seu sistema de saciedade e a primeira experiência é com o alimento, deste modo, se você as obriga a comer tudo, este sistema poderá não se desenvolver adequadamente e, sem ele, elas poderão, na vida adulta, “necessitar” de tudo para se sentirem felizes e realizadas, tornando-se consumidores vorazes, sem limites para compras e gastos.
Aproveite a mesada, para dar grandes lições. A primeira é que mesada não é obrigação e sim educação. Ela deve ser dividida em três partes, uma para gastar hoje, outra para poupar e gastar amanhã, estimulando a paciência e a cultura de investimento e outra para doar, estimulando a generosidade. Ela deve ser apenas o suficiente para seus gastos, de acordo com a idade. Uma boa medida é avaliar as necessidades de seus filhos, obedecendo, evidentemente, o seu limite orçamentário.
Deixe seus filhos fazer, crescer, criar, gerar, pagar, de acordo com a maturidade de cada um, e supervisione sempre, dê limites comportamentais e financeiros e corrija seus erros. Entretanto, se eles forem à falência mostre o motivo e deixe-os sem dinheiro, não os socorra, se isto acontecer, você estará fazendo o papel do banco e ensinando-os, desde cedo, a contrair empréstimos. É melhor quebrar ou falir aos 10 do que aos 50 anos.
Educação financeira é assunto sério, não a delegue à mídia, à cantina da escola ou às telenovelas infanto-juvenis. Imagine-se aos 80 anos tendo que sustentar filhos de 50 e netos de 20. Ensine hoje para ter tranquilidade financeira amanhã.
Autor: Rogério Olegário Do Carmo