A cada trimestre, quando é divulgado os lucros dos bancos, vejo nas redes sociais e até na minha caixa postal referências, nada elogiosas, aos banqueiros, acusando-os de ganância exagerada e do absurdo deste lucro, diante de um país tão pobre. Há quem demonstre indignação com o governo por permitir tal arroubo. Entretanto, não vejo sequer uma pessoa que tenha feito um mea-culpa em relação aos lucros das instituições financeiras.
Lamento informar, mas você também é responsável por esses ótimos resultados. Parabéns! Você colaborou com parte dos seus recursos pessoais para isso. Faça as contas dos juros pagos, não só sobre o uso dos créditos rotativos do cheque especial e do cartão de crédito, como também pelos desperdiçados nos empréstimos pessoais e consignados que fez. Sem falar nos financiamentos de bens de consumo, veículos e casa própria.
E você que não pagou juros, não se exclua: você investiu em fundos pouco eficientes, com taxas de administração altíssimas e baixa rentabilidade. Veja aqueles fundos que pagam prêmios, perdem para caderneta de poupança, cobram 4% ou mais de taxa de administração e são campeões de captação de recursos, alguns com mais de R$ 11 bilhões de patrimônio líquido. E não pense que estou exagerando, tire suas próprias conclusões, visitando os sites dos principais bancos e analisando, em detalhes, seu fundos.
Nisso se enquadra também você que pagou tarifas caras e não checou, por puro comodismo, se outro banco oferece tarifas menores. Não cobrou o ressarcimento das cobranças lançadas equivocadamente – aliás, nem prestou atenção nelas. Não pediu desconto das anuidades do cartão de crédito e, pior: aceitou uma venda casada ao adquirir algum produto atrelado a uma concessão de crédito, ou contratou um título de capitalização só para ajudar o seu gerente a cumprir uma meta. Lembre-se de que você não é amigo de seu gerente, (O seu amigo, o gerente do banco) e sim cliente. Seu gerente sabe que existem bancos melhores e investimentos melhores que o seu, mas dificilmente vai lhe dizer isso.
Pois bem. O lucro dos bancos também provém do desconhecimento que as pessoas tem sobre as regras da boa gestão do dinheiro, da desinformação ou desinteresse sobre assuntos que envolvem finanças e da incapacidade de entender que muitos problemas financeiros são causados pelo comportamento diante do dinheiro. Quer uma prova? Quanto tempo você dedica por semana ao seu cuidado financeiro? E aos seus dentes? Compare! Seus dentes ganharam, não é mesmo?
Quero salientar que não sou contra o lucro. Muito pelo contrário, sou empresário e dependo do lucro para continuar em atividade. Pensar que lucro é crime é uma ideia limitante. Entretanto, ele só é duradouro se vier com a relação “ganha x ganha”, trabalho constante, inovação, pioneirismo, flexibilidade, boa prestação de serviços e boa gestão dos recursos financeiros – atributos que podem ser aplicados à sua vida e de sua família.
Assim, é necessário investir tempo para cuidar de suas finanças pessoais e aprender sobre você mesmo e o mercado financeiro. Infelizmente, a maioria dos bancos não vai tomar a iniciativa de orientá-lo e esclarecê-lo com um manual detalhado de regras e dicas. Afinal, quanto mais desinformado você for, mais “especial” você será.
Lembre-se: todos os juros, tarifas e outras taxas que você pagou aos bancos, contribuindo para os lucros deles, poderiam ter ficado na sua conta corrente. Melhor ainda: esse dinheiro poderia ter sido investido, rendendo juros para você, taxas de administração e de performance para gestores e administradores (talvez um banco) e impostos para o governo, colaborando para aumentar a riqueza de todos à sua volta, inclusive você.
Autor: Rogério Olegário do Carmo