Outro dia fui comprar um par de sapatos e passei por um verdadeiro sufoco, não pela dificuldade de encontrar meu número ou modelo preferido, mas para pagar. Eu não estava duro, juro! Afinal, só compro se tiver dinheiro e prefiro pagar à vista e com descontos.
Na prática, tentei valorizar o meu dinheiro e conhecer a capacidade de negociação do vendedor. Pois bem, diante do modelo e do valor, “em 10 vezes sem juros”, perguntei qual seria o preço para pagar à vista, e então o problema começou.
A resposta foi imediata: “o preço em 10 vezes é igual ao preço à vista”. Minha indignação começara a subir, pois estavam me chamando de burro. Para não me aborrecer, agradeci pelo “elogio” e fiz o que podia, fechando a minha carteira. Fui procurar outra loja, porque nada é pior para um comerciante do que uma venda perdida.
Na loja seguinte, de novo a resposta: “em 10 vezes ou à vista, pelo mesmo preço, sem juros”. Minha indignação elevou-se. Tentei argumentar. Perguntei como, no país campeão mundial de taxa de juros, é possível alguém vender em 10 vezes sem cobrar um mínimo de juros? Não adiantou. Resolvi mudar de bairro e de shopping.
Na outra loja, minha indignação chegou ao limite máximo. Não consegui, em loja alguma, negociar a compra do meu sapato à vista e com descontos. As respostas foram as mais diversas: “o sistema não permite dar descontos”; “só com o gerente da loja” – que obviamente não se encontrava.
Na prática, o meu, o seu e o nosso pagamento em “10 vezes sem juros” custam ao comerciante o equivalente a, no mínimo, 14% do valor do produto em juros nas factorings, onde as parcelas são transformadas em dinheiro à vista. O mesmo acontece com as operadoras de cartão de crédito, que cobram uma taxa para antecipar o valor total das parcelas, uma operação chamada de “antecipação de recebíveis”. Portanto, nada mais justo que você faça jus a um desconto, por menor que seja. Afinal, dinheiro vivo, débito automático e pagamentos com cartão de crédito não voltam sem fundos. Assim, na próxima compra, peça ao comerciante para dividir com você os lucros das factorings ou das operadoras de cartões de crédito, dando um belo desconto para pagar à vista.
Sim, o meu sapato: comprei-o duas semanas depois em uma pequena loja de rua, não pertencente a redes. Tratei com o proprietário e fiz uma negociação justa para ambas as partes envolvidas: paguei à vista e com um belo desconto.
Exerça o seu poder de consumidor: está caro, procure outra loja; as condições são abusivas, vá ao concorrente; algo deixou você desconfortável, dê-se um tempo e deixe para comprar outro dia. Quem sabe você ganhe, a necessidade passe, o preço caia ou o gerente da loja relembre as aulas de matemática, lá do colégio, onde ele estudou…
Autor: Rogério Olegário Do Carmo