A AT Revista é encartada aos domingos em A Tribuna, maior jornal em circulação na Baixada Santista. Configra artigo na íntegra:
Ah, férias!
Estamos falando da época mais desejada do ano para praticamente todas as idades, segundo Paula Sauer, economista, planejadora financeira certificada e doutoranda em psicologia. “A maioria de nós ama fazer coisas diferentes nesses dias de descanso e diversão, mas poucos se programam para usufruí-los. Conheço gente boa de planejamento financeiro que, durante as férias,tende a ser mais mão aberta. Parece que não nos importamos em gastar mais. Inclusive compramos e comemos várias besteiras. Quanto mais distante da rotina, melhor”, comenta.
Afinal, que mágica esses dias têm que faz com que muitos mudem de comportamento?
“Somos humanos, e pensar cansa! Nas férias, o bom é aproveitar, relaxar, curtir, deixando para nos preocuparmos depois com o resto. O raciocínio, nessa hora, é o de que merecemos. Conhece alguém assim? Claro que sim! Você, eu e todo mundo. Podemos até não esbanjar com tudo, mas sem dúvida somos menos pães-duros com dinheiro durante as férias”, explica a expert.
A Psicologia Econômica aponta alguns motivos que nos levam por esse caminho. Nas palavras de Paula: “Existe um viés comportamental que se chama falácia dos custos irrecuperáveis (em inglês, sunk cost). É o famoso já que, e ele arrasa o nosso bolso. Já que estamos aqui, vamos aproveitar. Já que estamos aqui, nada de miséria. Já que viemos para cá… Não agimos assim o tempo todo, mas em alguns momentos deixamos de lado a racionalidade e nos guiamos mais pelas emoções”.
Excesso de confiança é outro exemplo de viés comportamental a se atentar, segundo a planejadora.
“Mês que vem deve entrar um dinheiro e a gente vê como paga essa despesa da viagem… Para a maioria dos mortais, não vai entrar nada a mais. Pelo contrário, aos que têm emprego, é descontadaa antecipação das férias. Para os profissionais autônomos, se não trabalham, não ganham (no pain, no gain)!”, detalha ela.
Equilíbrio dinheiro-relax-férias
Vale ter os pés na areia, ops, no chão, buscando consciência situacional em relação ao seu dinheiro, para perceber até onde pode ir. “Não faz sentido viajar para relaxar e voltar cheio de preocupações e tensões por ter gasto mais do que podia”, afirma o consultor, educador e planejador financeiro pessoal Rogério Olegário do Carmo. Paula concorda: “Temos consciência disso, só que nas férias damos folga ao nosso cérebro também. E usamos um sistema automático de respostas, intuitivo, menos sofisticado. Nem sempre funciona; e aí corremos o risco de cair em ciladas”.
As pessoas tendem a perder o controle do dinheiro também porque “associam esse ato de contenção com sentimentos negativos, como chateação, sensação de privação e raiva. A nossa natureza não busca dor, ela busca prazer. Então, seja com comida, seja com finanças, após algum tempo vamos querer alguma compensação”, explica a psicoterapeuta no segmento de finanças comportamentais Angelica Rodrigues Santos. “Costumamos esquecer, procrastinar a ideia de poupar, além de cometer equívocos. É o inconsciente trabalhando”, alerta Rogério, que é especialista em administração financeira e mercado de capitais pela Fundação Getúlio Vargas. A outra causa tem a ver com a falta de um orçamento prévio, que o planejador chama de Plano de Voo Financeiro, contendo cada gasto que a pessoa fará nas férias, antes de decolar.
A viagem do momento.
E tem mais, a cada temporada há o destino da vez. Miami já foi. Agora é Portugal. Dentro do Brasil, a joia do momento é Inhotim (MG). “Para muitos de nós, vêm dois sentimentos (às vezes de forma inconsciente): tenho que ir também, deve ser sensacional (mesmo que precise parcelar e me matar de trabalhar os outros 11 meses do ano para pagar). É o que chamamos de efeito manada. Ou sabemos que não é a melhor escolha, mas fazemos assim mesmo, com medo de perder a
oportunidade. Afinal, a única coisa que gostamos de perder é peso corporal”, compara a economista.
Outra coisa que parece sem sentido, mas acontece: “A pessoa se aperta ou fica inadimplente porque aquele dinheiro guardado é para as férias. Entra no cheque especial para pagar o conserto do carro, mas não toca nos dólares para ir à Disney? Daí, quanto mais perto das férias, mais envolvida emocionalmente e mais apressada fica”, avisa Paula.
A boa notícia é que dá para se desligar dos problemas do cotidiano e se divertir, sem se endividar depois. Segundo Rogério, criando objetivos para cada gasto e cumprindo o planejado: “É necessário fazer um orçamento prospectivo, ou seja, gastar, anotar, lançar, comparar com o que planejou, analisar se haverá (ou não) um próximo gasto e de quanto será. E também escapar do velho hábito de descobrir quanto gastou no final das férias. Já foi, e só resta se lamentar por ter ficado no vermelho”.
Esse assunto pode parecer estraga-prazeres de férias, mas há programas virtuais interessantes para ensinar a orçar sem se estressar. O próprio Rogério criou o Librattum (librattum.com.br), que acaba com a desculpa de dificuldades para lidar com cálculos, especialmente de juros. E criou o curso riquezadedentroprafora.com.br, junto com Angelica, que traz dicas on-line na sua parte grátis.
“Se eu sei quanto poderei gastar, não precisarei me estressar, me privar. Eu vou relaxar, porque comprarei aquilo que planejei. E as férias serão ótimas”, anima a psicóloga.
Paula reforça que não existe regra única para todos, mas que “vale a pena se planejar com antecedência, para pensar com mais cuidado em suas escolhas. Verifique preços, compare, relativize e mude de ideia, se necessário. Se tiver um acompanhante para lembrá-lo de seguir o plano, melhor ainda. Eu mesma resolvi levar minha filha para brincar de neve em Bariloche, na Argentina, como presente de aniversário. Combinamos que faríamos muitos passeios, mas não compraríamos besteiras. Lá estava eu hipnotizada com uma vitrine, quando minha pequena disse: ‘Mãe! Nós viemos aqui para passear, e não para gastar’. Fiquei meio sem graça e, ao mesmo tempo, orgulhosa da Clarinha. Filha de peixe, peixinho é”.
Por fim, veja as dicas de Viviane Pio, gerente de vendas da CVC, sobre como economizar nas viagens de férias 2018:
- Em família, os gastos normalmente se multiplicam por dois ou até quatro, dependendo do número de pessoas que embarcarão juntas. Então, é importante definir o destino da viagem de acordo com o orçamento disponível, ou seja, optando pelo destino que “cabe no bolso” no lugar do destino “dos sonhos”.
- Além dos custos com transporte, hospedagem e alimentação, quem viaja também quer fazer passeios. Então, uma boa opção é fazer um cruzeiro marítimo, cujas paradas em cidades estão incluídas no custo total. Além disso, o navio já é uma diversão por si só, com recreações e shows diários.
- Se a escolha ou a decisão da viagem ficou para última hora, opte por garimpar promoções tipo saldão de viagens,promovidas por empresas de renome, ou opções em voos fretados, que costumam oferecer preços atrativos e vantagens especiais, como isenção de multa em caso de cancelamento e franquia de bagagem gratuita.
- Opte por parcelar o pacote em até dez vezes sem juros, preferencialmente no boleto bancário. Assim, o cartão de crédito fica livre para qualquer emergência durante a viagem, principalmente no exterior.
- Em viagem a outros países, compensa levar cartão pré-pago ou moeda em espécie para limitar os gastos com antecedência. E saiba que nem sempre encurtar a viagem reduz as despesas. Melhor controlar as compras.
- Antecipe a viagem em um dia se houver promoções de pacotes e fique atento às diferenças tarifárias dependendo da data do voo. Ou estude outros meios de transporte. Viagens rodoviárias costumamser acolhedoras e divertidas!